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Resiliência

‘Precisamos aprender com a água’: reitora da Ufrgs fala sobre racismo ambiental, reconstrução pós-enchente e o papel da universidade

Em entrevista ao Brasil de Fato, Márcia Barbosa enfatiza importância do diálogo

03.jun.2025 às 18h50
Porto Alegre (RS)
Fabiana Reinholz
‘Precisamos aprender com a água’: reitora da Ufrgs fala sobre racismo ambiental, reconstrução pós-enchente e o papel da universidade

"Há uma resistência estrutural, em qualquer governo, ao novo, à mudança. Mudar exige trabalho", ressalta reitora - Foto: Fernando Gomes / ALRS

Após um ano de uma das maiores crises climáticas e socioambientais da história, o Rio Grande do Sul ainda vive sob os impactos das enchentes – especialmente nas populações mais vulneráveis, muitas das quais enfrentam uma verdadeira diáspora de seus territórios. Diante desse cenário, a reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Márcia Barbosa, propõe uma reflexão sobre o papel das instituições públicas, da ciência e da escuta ativa das comunidades.

A tragédia no estado tem gerado debates significativos, como no evento “Diálogo com Mia Couto: Cultura e Crise Climática”, realizado na última quinta-feira (29), com mediação do presidente da Assembleia Legislativa do RS, Pepe Vargas (PT), e da própria reitora. Em entrevista ao Brasil de Fato RS após o evento, Márcia Barbosa reflete sobre os desafios da reconstrução, denuncia o racismo ambiental das respostas às enchentes e defende que a educação seja a base para um novo modelo de sociedade.

Ela aponta caminhos que vão desde o fortalecimento das redes comunitárias até a transformação da universidade em um espaço verdadeiramente popular, interdisciplinar e comprometido com a vida. A Ufrgs, que completou 90 anos, conta hoje com projetos como o Observatório das Consequências Jurídicas das Enchentes e Inundações (OCJE), que realiza estudos técnicos especializados e consultorias para entidades públicas e privadas sobre temas jurídicos ligados aos efeitos sociais das cheias.

“Estamos criando novos caminhos, conversando com povos indígenas, povos tradicionais, povos de terreiro”, destaca a reitora. Inspirada na fala do escritor moçambicano Mia Couto, cujo tema central foi a água, ela reforça: “Somos compostos magicamente de água. E talvez, se aprendêssemos com ela, formaríamos mais redes, mais diálogo e mais soluções.”

Brasil de Fato RS: Durante a conversa com Mia Couto, a senhora falou do impacto das mudanças climáticas nas populações mais vulneráveis e da diáspora que eventos extremos causam. Poderia comentar mais sobre isso?

Márcia Barbosa: Há uma arrogância por parte de quem legisla e de quem faz ciência, de decidir onde as pessoas podem ou não viver, e de simplesmente removê-las ou realocá-las sem considerar a realidade de suas vidas. O diálogo com quem vive nos territórios, com o motivo pelo qual estão ali, é fundamental.

Isso também dialoga com algo que o Mia disse: a necessidade de a ciência eurocêntrica conversar com os saberes de quem tem outra história. E eu sei que nós, da universidade, muitas vezes falhamos nisso. Mas acho que estamos tentando construir um novo caminho, promovendo mais conversas com povos indígenas, povos tradicionais, povos de terreiro. Hoje mesmo assinamos um acordo com o Educafro e outros movimentos. Estamos retomando essa escuta que não ergue uma parede só porque não entendemos determinada cultura. Ao contrário: conversamos, construímos juntos, fortalecemos. E a universidade tem que ser isso.

Esse impacto nas comunidades mais vulneráveis também é apontado no relatório recém-lançado pela Anistia Internacional Brasil e pela Relatoria Especial sobre Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Redesca).

Sim, trata-se de racismo ambiental. O que isso significa? Significa que se você já vive em uma área de risco, será mais impactado. Você será o último a voltar para casa. Mesmo que receba dinheiro para reconstruir, terá menos condições. Pode ter o dinheiro, mas a vizinhança não vai querer que você compre uma casa naquele outro lugar. E ninguém pensa em sua rede de apoio: o A vai primeiro, o B depois… Mas se o A cuida do filho do B, eles têm que ir juntos.

Muitas vezes, na reconstrução, tudo é feito igual ao que era antes, o que perpetua a fragilidade das pessoas. Mas, no mínimo, deveriam existir rotas de fuga, locais seguros já planejados para o próximo evento climático, que vai acontecer de novo.

“Precisamos construir um novo modelo, de Estado, de compartilhamento, de vivências. E isso a pela educação” – Foto: Rafa Dotti | Foto: Rafa Dotti

Completamos um ano da enchente, que foi precedida pelos episódios de 2023, no Vale do Taquari…

Sim. A enchente de 2024 foi uma surpresa apenas para quem não ouviu os cientistas. Em 2023, eu estava no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e já sabíamos que a situação ia piorar.

Mas há uma resistência estrutural, em qualquer governo, ao novo, à mudança. Mudar exige trabalho. Construir uma casa diferente, projetar um centro comunitário em um ponto mais alto, preparado para rotas de fuga, pensar em um urbanismo que dialogue com as pessoas – tudo isso exige esforço. É muito difícil mudar o jeito como olhamos o mundo.

É por isso que ainda se quer explorar petróleo na Amazônia. Porque não se consegue imaginar outro modelo econômico. Esse desafio não será enfrentado pelo Norte Global, que está preso ao modelo vigente. Mas nós poderíamos enfrentá-lo. Temos menos industrialização, menos amarras. Temos outras possibilidades de desenvolvimento.

Sempre penso na caverna de Platão. É difícil desenhar, na cabeça de quem viveu a vida inteira na escuridão, o que há do lado de fora. E essa é a função da universidade: apresentar outras ideias.

Hoje mesmo discutimos o orçamento, e o ponto central é: quando se é Estado, pode-se ter dívida. Ela não pode ser imensa, mas pode existir. Porque a dívida de hoje é o desenvolvimento de amanhã. É o investimento que gera crescimento.

É como comprar uma casa: você se endivida, mas depois tem um bem que gera economia. Falta ao Estado essa visão de que pode arriscar, porque confia, e que deve trazer o povo junto.

O que ainda não foi dito sobre o desastre que vivemos e que precisa ser frisado?

O que não foi dito é que precisamos construir um novo modelo de Estado, de compartilhamento, de vivências. E isso a pela educação.

Hoje, a Ufrgs está desenvolvendo um projeto para integrar temas como mudanças climáticas e meio ambiente em todas as disciplinas, e não apenas como uma matéria isolada. A ideia é formar crianças e jovens para, com eles, desenhar um novo modo de viver.

Como a senhora vê a relação de Porto Alegre com o meio ambiente?

Porto Alegre já foi melhor. Já foi exemplo, porque tinha uma educação que dizia: “como vamos preservar o lugar onde vivemos?”. Essa discussão precisa voltar – não como pauta partidária, mas no bairro, no botequim da esquina.

Precisamos, nos nossos condomínios, voltar a separar o lixo corretamente. E, acima de tudo, não podemos tirar o trabalhador e a trabalhadora do processo de reciclagem.

Transformar a reciclagem em um negócio, como estão fazendo em Porto Alegre, é a pior solução. Porque não educa. Se é um negócio, eu vou pensar: “alguém está ganhando com isso, então por que eu vou separar meu lixo?”.

No debate com Mia Couto falou-se sobre a água. Em Porto Alegre, acompanha-se o debate sobre o Guaíba: afinal, é rio ou não?

A discussão é uma discussão técnica. Normalmente, os que entendem de geografia dizem que não é rio. Mas ele pode ser visto como um lago que também “engravida”, que tem seu espaço e o retoma toda vez que o invadimos. E ele vai continuar tentando retomar esse espaço. Se não dialogarmos com ele, se não soubermos ouvir, medir, observar as consequências do que fazemos com ele, vamos sofrer mais e mais enchentes.

Está na hora de mapear os contornos do rio, identificar onde reflorestar, onde evitar ocupar. Precisamos usar todos os instrumentos de conhecimento que temos – e temos muitos. As comunidades têm. A universidade tem. Falta conversa.

Inspirado em Mia Couto: somos água também?

Sim. Somos compostos magicamente de água. E não sei se você sabe: as moléculas de água formam grandes redes. Essa ideia de rede e diálogo está na própria estrutura da água. São essas ligações que dão à água suas propriedades tão especiais. Talvez devêssemos aprender com a água: formar mais redes, mais conexões, mais diálogo, para enfrentar os desafios que temos pela frente.

Mensagem final.

Quero ver mais gente dentro da Ufrgs! Venham estudar aqui, nossos cursos são maravilhosos. Venham assistir aos nossos shows, espetáculos e debates. Esta é a casa do povo brasileiro. Venham para a Ufrgs.

Editado por: Marcelo Ferreira
Tags: enchente rio grande do sulmeio ambienterio grande do sul
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