Durante coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (3), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a criticar duramente o governo israelense pelo massacre de palestinos na Faixa de Gaza. Ao ser questionado sobre um comunicado da Embaixada de Israel no Brasil com críticas à posição do governo brasileiro, Lula afirmou que “um presidente não responde a uma embaixada, mas reafirma o que diz”. E seguiu às críticas.
“O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra, é um exército matando mulheres e crianças”, declarou o presidente, afirmando em seguida que o próprio povo judeu desaprova o que está acontecendo em Gaza. “É a decisão de um governo que nem o povo judeu quer”, disse Lula.
O presidente mencionou o holocausto judeu, durante a Segunda Guerra Mundial, e reafirmou a necessidade de respeito ao acordo entre palestinos e israelenses em 1967, que delimitou fronteiras para estabelecer dois estados: um judeu e outro palestino.
“É exatamente por conta de que o povo judeu sofreu na sua história que o governo de Israel deveria ter bom senso e humanismo no trato com o povo palestino. Eles se comportam como se o povo palestino fosse cidadão de segunda classe. E nós temos dito há muito tempo, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o estado Palestino aqui na América do Sul, e eu volto a reafirmar: só haverá paz quando a gente tiver consciência de que o [povo] palestino tem direito ao seu Estado, à terra demarcada por aquele acordo de 1967 que o governo de Israel não quer deixar ser cumprido”, declarou.
O presidente ainda se referiu às acusações de antissemitismo sobre críticos ao regime israelense e ao que apontou como genocídio em Gaza. “E vêm dizer é que antissemitismo. Precisa parar com esse vitimismo. É o seguinte: o que está acontecendo na faixa de Gaza é um genocídio. É a morte de mulheres e crianças que não estão participando da guerra”, declarou Lula.
Ingerência gringa
O presidente Lula foi questionado por jornalistas sobre as declarações de autoridades dos Estados Unidos a respeito da atuação do judiciário brasileiro, sobretudo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Primeiro, é inissível que um presidente de qualquer país do mundo dê palpite sobre a decisão da Suprema Corte de um outro país. Se você concorda ou você não concorda, silencie, porque não é correto você dar palpite”, disse Lula. “Eu acho que os Estados Unidos precisam apenas compreender que respeito à integridade das instituições de outros países é muito importante. É muito importante porque nós achamos, sabe, que um país não pode ficar se intrometendo na vida do outro, querendo punir um outro país. Isso não tem cabimento”, declarou o presidente.

Sobre questões relacionadas à taxação de produtos brasileiros nos Estados Unidos, o presidente voltou a afirmar que o governo brasileiro trabalhará sob a perspectiva da reciprocidade. “Na questão do comércio, na taxação que foi feita com relação ao Brasil, a orientação que nós temos é o seguinte: primeiro nós vamos tentar gastar todo o tempo possível negociando. O ministro [Geraldo] Alckmin e o ministro Mauro Vieira já fizeram várias reuniões. Se não houver um acordo, nós vamos entrar na Organização Mundial do Comércio ou vamos fazer, sabe, uma decisão de ter uma reciprocidade. É isso que vai acontecer”, explicou o presidente, defendendo ainda o multilateralismo como resposta ao protecionismo.
Lambe-botas do Trump
Ao comentar a relação com os Estados Unidos, o presidente mencionou, sem citar nomes, o caso do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem articulado com políticos republicanos para atacar as instituições brasileiras.
“É lamentável que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, está lá a convocar os Estados Unidos para se meter na política interna do Brasil. É isso que é grave, é isso que é uma prática terrorista, é isso que é uma prática antipatriótica”, declarou o presidente. “Um cidadão que é deputado renuncia ao seu mandato, pede licença ao seu mandato para ir ficar tentando lamber as botas do Trump e de assessor do Trump pedindo intervenção na política brasileira. Então não é possível aceitar isso”, seguiu Lula.
“A convivência democrática é a única coisa saudável para que a sociedade possa viver em paz. E isso exige que a gente respeite as decisões”, defendeu.